A etapa de hoje
prometia ser suave. Pouco mais de 20km, quase planos e sem grandes desníveis. A
única dificuldade continuava a ser o calor. Mais uma vez saímos por volta das
6.30 para aproveitar a frescura da manhã. Passamos pelo fantástico castelo
templário de Ponferrada que não conseguimos ver no dia anterior por estarmos
demasiado fatigados e esfomeados para andar a circular pela cidade. Sair da
urbe demorou algum tempo pois havia que circundar a povoação e, pela primeira
vez, tivemos dúvidas no caminho a seguir já que, por momentos, desapareceram as
setas amarelas que guiam os peregrinos.
Depois de encontrar a
direcção certa, os quilómetros foram-se fazendo a um bom ritmo, com algumas
paragens para abastecer o cantil. Ao longe começavam a avistar-se os montes que
indicam a aproximação à Galiza. Perto de Cacabelos, numa das “estações de
serviço”, encontramos dois portugueses, peregrinos em bicicleta, que tinham
iniciado o caminho em Saint Jean. Aí retemperamos as forças e cuidamos dos pés.
Mais à frente travamos conhecimento com outra portuguesa que fazia o caminho
acompanhada por dois amigos espanhóis e dois cães.
Pelo meio dos
vinhedos continuamos o percurso em direcção a Vilafranca del Bierzo, cruzando
pequenos pueblos com rústicas
habitações de telhados de ardósia, portadas de madeira e varandas floridas. As
caras que encontrávamos nas tiendas e
nos pontos de descanso foram-se tornando cada vez mais familiares: novamente o
Alexandre, o peregrino brasileiro, a Liliana, a mexicana que veio à Europa
fazer um MBA, um casal hispano-venezuleno, o casal italiano que nos cedeu os
colchões…enfim, aqueles com quem, dias mais tarde, chegamos a Compostela.
Mais uma vez, os
últimos quilómetros foram revestidos de algumas dificuldades devido ao calor e
à falta de água, mas lá conseguimos chegar a Vilafranca e instalar-nos no
albergue. Pela primeira vez coube-me em sorte uma cama na parte de cima do
beliche. Devido ao meu historial não era um augúrio promissor para uma boa
noite de sono. Depois de instalados e do duche tomado fomos conhecer a vila.
Passamos pela igreja de S. Tiago e pela sua “Porta do Perdão” junto da qual,
quem estivesse doente ou impossibilitado de prosseguir viagem até Compostela,
podia obter o perdão dos seus pecados com a mesma validade que diante do túmulo
do Apóstolo.
A povoação
pareceu-nos muito aprazível, com um belo conjunto monumental e uma Plaza Mayor
bastante simpática. Aí bebemos um granizado e comemos umas tapas. O jantar, num
restaurante da mesma praça, estava delicioso. Assim, quem não quer ser
peregrino? De volta ao albergue o cenário não foi tão animador. Um coro de
roncos ecoava pelo espaço do 2º piso onde tínhamos ficado instalados. O ruído
era tão ensurdecedor que nem os “tapa ouvidos” foram suficientes. Além disso, o
receio de voltar a cair do primeiro andar de um beliche impediu-me de ter um
sono descansado. Dei voltas e voltas sobre o colchão. A noite foi muito mal
dormida e a recuperação para a etapa seguinte não se chegou a fazer. Nem todas
as noites de um peregrino são abençoadas com um sono angelical.
... Pois não Carina.
ResponderEliminarO padre que costuma acompanhar-nos nas peregrinações auto-entitula-se de "ronqueiro"... Dormiu muitas vezes a meu lado!