sábado, 28 de dezembro de 2013

Ponferrada - Vilafranca del Bierzo (24km)

A etapa de hoje prometia ser suave. Pouco mais de 20km, quase planos e sem grandes desníveis. A única dificuldade continuava a ser o calor. Mais uma vez saímos por volta das 6.30 para aproveitar a frescura da manhã. Passamos pelo fantástico castelo templário de Ponferrada que não conseguimos ver no dia anterior por estarmos demasiado fatigados e esfomeados para andar a circular pela cidade. Sair da urbe demorou algum tempo pois havia que circundar a povoação e, pela primeira vez, tivemos dúvidas no caminho a seguir já que, por momentos, desapareceram as setas amarelas que guiam os peregrinos.

Depois de encontrar a direcção certa, os quilómetros foram-se fazendo a um bom ritmo, com algumas paragens para abastecer o cantil. Ao longe começavam a avistar-se os montes que indicam a aproximação à Galiza. Perto de Cacabelos, numa das “estações de serviço”, encontramos dois portugueses, peregrinos em bicicleta, que tinham iniciado o caminho em Saint Jean. Aí retemperamos as forças e cuidamos dos pés. Mais à frente travamos conhecimento com outra portuguesa que fazia o caminho acompanhada por dois amigos espanhóis e dois cães.



Pelo meio dos vinhedos continuamos o percurso em direcção a Vilafranca del Bierzo, cruzando pequenos pueblos com rústicas habitações de telhados de ardósia, portadas de madeira e varandas floridas. As caras que encontrávamos nas tiendas e nos pontos de descanso foram-se tornando cada vez mais familiares: novamente o Alexandre, o peregrino brasileiro, a Liliana, a mexicana que veio à Europa fazer um MBA, um casal hispano-venezuleno, o casal italiano que nos cedeu os colchões…enfim, aqueles com quem, dias mais tarde, chegamos a Compostela.


Mais uma vez, os últimos quilómetros foram revestidos de algumas dificuldades devido ao calor e à falta de água, mas lá conseguimos chegar a Vilafranca e instalar-nos no albergue. Pela primeira vez coube-me em sorte uma cama na parte de cima do beliche. Devido ao meu historial não era um augúrio promissor para uma boa noite de sono. Depois de instalados e do duche tomado fomos conhecer a vila. Passamos pela igreja de S. Tiago e pela sua “Porta do Perdão” junto da qual, quem estivesse doente ou impossibilitado de prosseguir viagem até Compostela, podia obter o perdão dos seus pecados com a mesma validade que diante do túmulo do Apóstolo.



A povoação pareceu-nos muito aprazível, com um belo conjunto monumental e uma Plaza Mayor bastante simpática. Aí bebemos um granizado e comemos umas tapas. O jantar, num restaurante da mesma praça, estava delicioso. Assim, quem não quer ser peregrino? De volta ao albergue o cenário não foi tão animador. Um coro de roncos ecoava pelo espaço do 2º piso onde tínhamos ficado instalados. O ruído era tão ensurdecedor que nem os “tapa ouvidos” foram suficientes. Além disso, o receio de voltar a cair do primeiro andar de um beliche impediu-me de ter um sono descansado. Dei voltas e voltas sobre o colchão. A noite foi muito mal dormida e a recuperação para a etapa seguinte não se chegou a fazer. Nem todas as noites de um peregrino são abençoadas com um sono angelical. 

1 comentário:

  1. ... Pois não Carina.
    O padre que costuma acompanhar-nos nas peregrinações auto-entitula-se de "ronqueiro"... Dormiu muitas vezes a meu lado!

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